Sobre espaços e as conquistas dos mesmos by Ilka @Ilkoolatra
Como bem sabemos, nossa sociedade é patriarcal, capitalista, religiosa — apesar de laica e apesar também de um leve fundamentalismo que nos ronda, e democrática — mesmo que nesse momento político em que vivemos haja um enorme flerte com o fascismo; ainda temos uma constituição democrática, e dentro de todo esse sistema, apenas isso é o que nos salva.
A democracia nos garante a possibilidade de assumir espaços, de termos a liberdade para lutar por aquilo que acreditamos. De sermos livres para nos constituir como indivíduo e para agir como coletivo.
Cada coletivo é composto por pessoas que neles se identificam, pessoas com características, experiências, histórias, dificuldades, sofrimentos, sentimentos em comum, pessoas que se abraçam, se acolhem por conta de uma causa e que dentro desse contexto de busca, possuem o seu espaço dentro desse movimento.
Os coletivos costumam ser bem especificados, sendo direto ao objetivo que pretendem atingir, como o movimento LGBT+ por exemplo, que é a luta pela liberdade de existir, e amar. Essa luta é bem específica e democraticamente conta com a colaboração das pessoas héteros, que compreendem a necessidade de normalizar para elas mesmas essa comunidade, e garantir que sejam respeitados em suas individualidades, com liberdade para exercer a forma como se identificam dentro da pluralidade existente, contudo, nenhum hétero clama pra obter protagonismo nessa luta, todos compreendem que os espaços são delimitados entre os que sofrem com a homofobia, os que são perseguidos e até assassinados, pela intolerância dos ditos conservadores.
Os héteros que lutam pelos LGBT+ sabem quem são os protagonistas dessa luta e não fazem questão de ter um papel de destaque, se satisfazendo em ocupar o espaço de apoiador da causa. Os negros, também tiveram e ainda tem lutado muito para garantir seu espaço e para conquistar a igualdade social dentro desse sistema racista, e contam com o apoio de muitos brancos que acham inadmissível essa exclusão social à qual o negro passa, mas o branco não se vê protagonista dessa luta, os brancos sabem que a vivência, que os desfavorecidos nessa luta são os negros, e aceitam o espaço de apoiadores da causa.
As mulheres também fazem parte da chamada minorias sociais, a mulher sofre o machismo, a misoginia e feminicídios, e tem estado a um bom tempo lutando por seu espaço na sociedade, o movimento feminista é o coletivo que cuida da busca pelo direito das mulheres e conta sim com a participação dos homens nessa luta.
Mulheres foram mortas para validarem a conquista desse espaço feminista, as mulheres continuam morrendo por ousarem querer ser protagonistas de suas vidas, e com muito sacrifício as mulheres tem conquistado seu espaço — por favor deem ênfase na palavra c o n q u i s t a d o, mas, o homem que é beneficiado do patriarcado, não se contentando do espaço que naturalmente possuem em seu privilégio social, acreditam que merecem espaço de protagonista dentro do movimento feminista pelo simples fato de reconhecerem a importância da causa e de oferecerem seu apoio.
Gente, por favor, não existe homem feminista, a luta é das mulheres, pelas mulheres, o foco é a igualdade de gênero? Sim. Mas somos nós mulheres que protagonizamos nossa luta, somos nós mulheres que ouvimos na delegacia a pergunta “seu marido te bateu é, o que foi que você fez pra ele ter batido em você?” e ainda nos estimulam a não oficializar a queixa e voltar pra casa pra que nos entendamos com nosso agressor, perdoando-o e normalizando os abusos.
Homem não pode ser feminista porque homem não é mulher. Se eles não experenciam nossas dores e vivências, eles não podem ter o poder de atuação nas nossas lutas, o homem já decide sobre nossas vidas dentro do sistema patriarcal, mas dentro do feminismo, esse movimento é a parte que nos garante ter a liberdade de escolhermos por nós mesmas. O apoio do homem à causa é bem vindo e necessário, mas o protagonismo, é nosso.